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Teatro Popular

Quando se fala de teatro popular, tradicional, convém sempre mencionar que se está a lidar com uma realidade relativamente fluída, com contornos difíceis de definir.A sua dinâmica, cuja génese é difícil de situar cronologicamente, parece decorrer de uma confluência de vários géneros teatrais.

De uma forma muito sintética pode-se começar pela herança do teatro religioso, em voga na Idade Média, no espaço europeu. Durante esta época pequenas encenações (Mistérios, Moralidades, Milagres, entre outras) que incluíam cânticos e danças, dão forma a narrativas bíblicas, procissões e cultos hagiográficos. Estas manifestações, desenvolvidas inicialmente sob os auspícios da Igreja, funcionavam como um instrumento de reiteração da fé e um meio de moralização de costumes. Dado o cariz licencioso que começou a impregnar estas representações a Igreja proibiu, nos actos de culto, folias, bailes e semelhantes expressões populares que, de acordo com a sua deliberação, profanariam os templos. Assim o teatro é projectado para fora do espaço e tempo sagrados, passando a ser representado nos adros e pórticos das Igrejas e outros espaços, e adquirindo uma maior independência do calendário litúrgico. Juntamente com a decrescente utilização do latim, a prática teatral adquire novos contornos estéticos que a aproxima de uma arte mais democrática.

Simultaneamente o terreno dramático medieval é povoado por outros géneros. A comédia faz também a sua aparição pela mão da tradição histriónica, com bobos e truões, onde pontuam breves cenas de cariz jocoso. Por outro lado o teatro popular surge ainda como uma espécie de composição poética híbrida, decorrente da circulação dos velhos romances medievos ou das narrativas das gestas guerreiras.

Há também a apontar o contributo da caudalosa literatura de cordel setecentista que sofreu uma larga disseminação em Portugal, persistindo ainda alguns núcleos até finais do século XIX e ainda princípios de XX. Temas clássicos, temas religiosos, temas históricos, a par de uma insistente análise da vida quotidiana, são trazidos à estampa (acolhidos) nessa tumultuosa literatura de intenções dramáticas sob as mais variadas designações (comédia, tragédia, entremez, ópera, seriam as mais usuais).

Percorreu-se um espaço e um período de tempo muito alargados de uma forma muito breve, fica a salvaguarda de que se pretende apenas dar uma breve perspectiva do assunto.

Actualmente pode-se vislumbrar reminiscências de todo este caudal dramático no teatro popular mirandês e, em particular, com a peça “A vida alegre do brioso João soldado”.

As várias questões presentes no cânone literário oficial tem continuidade nas manifestações culturais populares (ou vice-versa, se se quiser). Estas não são, no entanto, um mero reflexo. Zonas de contacto de formas artísticas onde representação, texto literário, canto, dança e mímica, confluem para dar forma a uma outra visão do mundo.

Os caminhos da cultura popular cruzam-se, assim, com outros, os de uma cultura erudita, cunhando, de maneiras diversas, temas universais.

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