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O Teatro em Miranda

O teatro popular mirandês é uma manifestação etnográfica que se representa na região de Miranda do Douro e do outro lado da fronteira, em Espanha. As representações, chamadas usualmente “colóquios”, têm a ver, muitas vezes, com a vivências das pessoas, com usos e costumes de cada localidade.

O espectáculo era montado em cima de um tablado, estrado de madeira elevado, para permitir boa visibilidade. O cenário de fundo era composto por colchas, representando as casas das personagens, servindo as primeiras de meio de entrada e saída em cena.

A representação deste tipo de teatro era, pelo menos pela altura da nossa recolha, extremamente simples e ingénua dependendo por completo da maior ou menor graça, jeito ou engenho dos seus intervenientes. O texto assume um papel preponderante dado que os actores em muitos casos quase que se limitavam a “recitar” ou debitar a sua parte, parados em cena, sendo a movimentação mínima (excepção feita ao elemento libertino representado pelo Crespim). Os espectáculos decorriam em ambiente vicinal com um público “familiar” na própria aldeia ou nas aldeias vizinhas. O ponto que sussurrava o texto aos ouvidos de algum actor que tivesse uma branca (esquecimento do texto), era perfeitamente assumido pelo “ensaiador” que dirigia a cena, junto à boca de cena, não se inibindo de corrigir em voz alta algum actor mais esquecido ou até mandar repetir alguma cena.

Os actores nunca voltaram as costas ao público, entrando em cena vindos detrás das colchas e saindo por onde entraram às arrecuas (movimentação esta que se estenderia a outras peças de teatro popular mirandês). Regista-se no entanto uma excepção a este tipo rígido de marcação, o Tonto, que pode tomar nomes como “Crespim” (o caso da peça que levamos à cena), “Setentrião”, entre outros.

Esta personagem acompanha todo o decorrer da acção ora auxiliando em prol do seu desenlace, ora atrapalhando os personagens no alcance dos seus desígnios, ora limitando-se a comentar as cenas. A sua marcação é totalmente livre, podendo voltar as costas ao público, interagir com este e com os actores, sem definição prévia, evocando desta forma o Arlequim da Comédia D’el Arte, os Bobos Vicentinos ou os Momos de Corte.

Este personagem traz consigo a pelota que é um pau mais ou menos torneado e trabalhado, com cerca de 35 cm de comprimento e 2 cm de diâmetro, com uma bola de trapo presa por uma corda atada numa das extremidades do pau. A corda que une a bola de trapo ao pau tem cerca de 30 cm. A pelota tem similaridades formais com a maça de armas (arma medieval que terá sido resultado da evolução bélica do mangual agrícola).

O espectáculo é iniciado com uma “introdução” (a cargo da personagem ” profecia”) em que é revelado ao público todo o enredo e o seu desenlace.

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